domingo, 12 de agosto de 2007

Callia Alta Malbec 2005

Primeiro post: será que esse blog passa do terceiro post sem eu virar uma enochata?

As Bodegas Callia ficam na região de San Juan, na Argentina, menos conhecidas do que Mendoza, mas igual capacidade de abrigar boas vinícolas, por causa das baixas temperaturas e solos aluviais (que regulam a umidade do terreno de forma favorável à viticultura). O vinho da estréia do meu decanter foi um Malbec 2005 dessa vinícola.

A primeira impressão é de um vinho bem mineral, uma onda de terra sobe da taça. Violeta escuro, com taninos suaves, não muito alcoólico. O primeiro gole dá uma sensação cortante, picante na boca. Nunca li nada específico sobre essa sensação – é diferente, por exemplo, dos aromas e sabores de pimenta de um Carmenère. O vinho, claro, passa por indefectíveis e esperadas frutas vermelhas, ameixa. Com o decanter, o Callia arredonda rápido. Uns minutos depois, a taça traz caramelo e baunilha. A graça toda do vinho – da bebida, não este em particular – é como os detalhes vão se revelando aos poucos, e como são fugazes. Vinho pede paciência... Vejo muito pouco se falar de como a bebida abre em etapas. Todas as descrições são sucintas, em um corte temporal instantâneo. Mas não me parece que um gole, numa degustação, dê conta de tudo que está ali na taça.

Minutinhos depois, um cheiro de mato chamou a atenção. Não agüentei e fui olhar o rótulo: eucalipto. Talvez não sejam mesmo bobagem os kits de aromas, embora me pareçam extremamente artificiais... ;) Mas não importa muito o nome para uma leiga como eu, o furta-cor das descobertas dá para o gasto.

Uma curiosidade: San Juan é menos famosa do que Mendoza, entre outras razões, porque a estrada de ferro chegou ali antes.

Prometo preço e local onde comprei nas próximas fichinhas:

Callia Alta

Malbec 2005

Caucete – Valle de Tullum – San Juan

Por causa de um decanter

Esse blog está começando por causa de um decanter.

Eu já gostava de beber vinho, despretensiosamente. O que fez a diferença para virar um hobby foi o fato de que eu sou apaixonada por detalhes e pelo background das coisas. Até demais: a sede de saber só mais um pouquinho faz com que eu nunca me sinta pronta para começar a escrever ou usar as informações que já tenho na mão.

Eu bebia vinho como uma adolescente até experimentar um Santa Carolina. Provavelmente era um reservado Cabernet Sauvigon, mas não lembro e não tenho como saber com certeza. Os Santa Carolina vêm um grande produtor de vinho chileno; mal comparando, uma espécie de Salton das cordilheiras. Foi com ele que eu percebi o potencial que o vinho tem como bebida, de esconder aromas e sabores que vão se mostrando aos poucos. É bem possível que antes eu já houvesse experimentado vinhos mais complexos ou interessantes, mas foi esse que me pegou de jeito, porque tinha elementos suficientes para minha curiosidade e falta de experiência captarem e preço acessível, além de ser um vinho muito fácil de beber, de agradar.

Continuei experimentando vinho sem pretensão nenhuma. Comecei a ler publicações sobre o assunto disponíveis no meu ambiente de trabalho, uma assessoria de imprensa especializada em gastronomia. E continuo me divertindo muito com cada vinho que me aparece pelo caminho... Mas duas coisas deixaram tudo mais divertido e interessante: uma foi o guia “Vinhos do Mundo Todo”, da editora Zorge Zahar, que ganhei do amigo e ex-namorado Rafael Gomez. Ele foi a primeira pessoa a levar meu hobby a sério, tanto quanto leva os dele. Sobre o livro, o grande ganho foi uma visão sistemática e superficial sobre o assunto, o que é bem bacana para quem quer começar a criar seus próprios pontos de referência.

A segunda foi o meu primeiro decanter. O decanter é um vaso bojudo de vidro ou cristal, que serve para aumentar a superfície de contato do vinho com o ar. Vinhos tendem a mostrar melhor suas características depois de alguns minutos abertos, respirando. O decanter catalisa o processo. Geralmente, se usa esse acessório em vinhos mais maduros e complexos, que precisam de um “empurrãozinho” para mostrar a que vieram. Nunca tomei vinhos mais sofisticados, mas já provei vinhos medianos na casa de amigos que tinham decanter e achei que o acessório fez toda a diferença. Na última sexta-feira, passei no empório Confraria do Queijo & Vinho, na av. Dr. Arnaldo, e encontrei um decanter de vidro, por um preço bem mais acessível do que eu esperava. Comprei, junto com duas garrafas de tinto e um corta-gotas que veio de brinde.

Foi o estalo de que enfim eu comecei a levar o meu hobby a sério. Não simplesmente pelos acessórios – a minha taça não é de cristal, é uma taça simples, de supermercado, mas que supre muito bem minhas necessidades – mas por perceber que a falta de registro faz com que eu não consiga mais encontrar por aí os vinhos que gostei de beber e que acho que merecem um repeteco.

O nome do blog é meio esquisito. Mas quem me conhece vai captar de cara uma outra mania minha, as séries médicas TV. House, em especial.